O ser humano vazio
O vazio existencial é uma condição patológica de consequências graves e que aparece de modo cada vez mais comum, afetando pessoas de todas as idades, mas principalmente os jovens.
Na Suíça, no lago Genebra, há uma estátua que representa bem o vazio existencial. É uma obra do artista Albert György da Romênia que a nomeou Melancolia. Nessa escultura está representado um homem sentado em um banco, com a cabeça voltada para o chão, abaixo dos ombros. A cabeça pequena em relação ao corpo, mostra a dificuldade de pensar e refletir de forma mais profunda na própria existência. Mas o mais marcante é que é vazada na região do tórax, representando o sentimento de vazio que tem crescido ainda mais no século XXI.
O problema não é novo e vem sendo observado desde 1945 com o nome de “neurose coletiva”, mas foi em 1955 que Carl Gustav Jung cunhou o termo “Vazio Existencial”.
O vazio existencial aparece como um sentimento de que as experiências que se vive não tem sentido. A vontade desaparece, a vida fica vazia de significado. O que se faz não tem mais sabor, a vida fica monótona e um mal-estar imenso vai tomando conta.
A culpa geralmente está presente, porque quando se analisa racionalmente a própria vida, o que se verifica é que ela é boa, que a família é estruturada e oferece o melhor, o trabalho é bom e bem remunerado, e, nesse contexto, aparentemente nada justificaria o sentimento que se vive e que gera tanto desalento.
É por isso que saúde não significa a ausência de doenças. A saúde é um estado de energia, de desejo de viver, de ser melhor e está ligado a forma como se lida com a vida.
O vazio existencial em tempos de transição planetária
No livro Obras póstumas, encontramos o tópico “Regeneração da humanidade”, onde Kardec nos traz um resumo de diversas comunicações, afirmando que as principais marcas da transição não serão as cataclismas geológicas ou as mortes coletivas, mas a loucura e o suicídio. A loucura, que em uma visão mais ampla, se aplicando aos diversos diagnósticos psiquiátricos, a encontramos na atualidade com nomes de ansiedade e depressão. Essas são as duas principais doenças mais diagnosticadas, dentre todas. Mais que cardiopatias ou cânceres. E além disso o suicídio, que na atualidade tem tomado proporções enormes, principalmente entre os jovens. Mas sabemos que o objetivo da transição é selecionar os seres regenerados para uma humanidade nova, condizente com o novo patamar evolutivo do planeta terrestre que em breve será efetivado.
Autoconhecimento como necessidade do ser
No Evangelho segundo o espiritismo, encontramos o Espírito François de Genève no tópico “Melancolia”, fazendo a seguinte pergunta:
“Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera de vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida?”
No vazio existencial é isso o que acontece, a vida que deveria ser doce, não está mais palatável, porque se mostra amarga. E a pergunta remete a saber, a conhecer mais, a buscar entender o que se passa.
É a necessidade do autoconhecimento que se firma nesta situação. Porque é preciso se conhecer para descobrir qual a real necessidade, o que realmente é imprescindível.
Compreender que somos seres espirituais e que nos encontramos imersos na matéria densa para vivermos as experiências humanas para o próprio aprimoramento, já que o objetivo da reencarnação é se tornar melhor com vistas a felicidade futura.
Portanto, quando se ignora essa realidade, o ser muitas vezes realiza buscas que não são as da sua essência, daquilo que poderia realmente nutrir o ser.
Distante de si, buscará mais o mundo. Inconsciente de si, fixará por mecanismo de substituição, ter mais consciência do mundo. E o mundo venderá de diversas maneiras as necessidades que deveriam trazer felicidade.
As redes sociais mostram o que é uma vida feliz, onde o ser é esquecido e o ter é sempre destacado nas fotos muito bem editadas. Nessa perspectiva, é importante ter a aparência bela do ator ou da atriz, o corpo muito bem malhado, fazer viagens de férias para paraísos e por aí segue. Há muita comparação e isso tende a adoecer ainda mais quem não consegue esses tópicos na própria vida.
O problema é que no vazio existencial, geralmente se vive muitos desses aspectos, sem conseguir lograr a felicidade real. A busca pelo prazer sensorial, se esvazia rapidamente, onde muitas vezes a criatura se objetifica, assim como transforma o outro em objeto para a vivência de experiências fugidias e sem vínculos no campo do sentimento.
E com o objetivo de anestesiar a consciência para fugir da dor que aumenta no íntimo, assume compromissos nas baladas, em shows, regados muitas vezes a bebidas ou drogas. Outras vezes de forma mais sutil a fuga de si aparece quando num final de semana quando se dorme muito, ou quando se maratona várias temporadas de uma série que parece interessante, mas que rouba a vivência de outras experiências que poderiam ser mais engrandecedoras.
Foi por isso que a benfeitora espiritual Joanna de Ângelis no seu livro de espiritismo Amor, imbatível amor, teve a oportunidade de dizer que:
“A busca de um sentido existencial por parte do ser humano constitui-lhe uma força inata impulsionadora para o seu progresso. Ao identificá-lo, torna-se-lhe o objetivo básico a ser conquistado, empenhando todos os seus recursos para a consecução da meta.” (pág. 101)
O autoconhecimento é que vai auxiliar o ser a significar a própria existência e as experiências que se tem, de modo a reconhecer o que realmente se propôs a realizar na sua jornada terrestre, enquanto espírito encarnado.
O aspecto da religiosidade deve ser buscada como fonte de compreensão de Deus, da finalidade real da vida e de si mesmo, de forma mais ampla. Nesse sentido, o Evangelho não é apenas um livro de estudos ou de preces. É muito mais do que isso, é manancial de estímulos à própria transformação. É um roteiro de vivência das leis divinas em nossas vidas, proporcionando saúde e bem-estar pela mudança de sentimentos e de sentido da própria vida quando aplicada.
Portanto, superar o vazio existencial é trabalho de se vincular a ideais nobres e criar para si projetos existenciais capazes que preencher e nutrir o ser espiritual que se é, que tem sempre a necessidade de evoluir e com isso ser melhor, na sua essência.
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