Desde quando lançamos o livro de espiritismo “Nem tudo é carma, mas tudo é escolha”, pude perceber como as pessoas têm dificuldade em enxergar a tênue diferença entre carma e escolha.
Recebi, à época, bastante mensagens nas redes sociais, onde alguns leitores me questionaram se ambos não eram a mesma coisa, isso quando não afirmavam que eram!
Muito foi explicado e o tempo seguiu o seu curso, mas, vez por outra, ainda vejo alguns questionamentos sobre essa questão. Por isso, arrisco-me, novamente¹ a levar ao conhecimento de todos, algumas palavras sobre o tema.
EXPLICAÇÕES PRELIMINARES: ESCOLHA E CARMA
“Quando atingimos o patamar de seres humanos, após a nossa passagem pelos três reinos², nos é dada a capacidade, daí para frente, de escolhermos o nosso caminho, de agirmos segundo a nossa vontade, de sermos responsáveis pelas nossas escolhas e ações. Portanto, somos portadores daquilo que chamamos de livre arbítrio e tanto o carma quanto as escolhas estão diretamente relacionadas a essa ferramenta evolutiva.”
KARMA OU CARMA
A palavra Karma deriva do sânscrito que significa “ação” e surgiu associada ao Budismo e ao Hinduísmo. Nos dias atuais, foi adotada pelo próprio Espiritismo, mas não por Kardec em sua codificação.
No ocidente, essa palavra é usada de uma forma muito popular e nem sempre em seu sentido correto. Vamos destacar três pensamentos equivocados mais frequentes sobre carma:
- O Carma é visto como uma consequência imutável, advinda dos nossos atos desacertados do passado, como um “destino” sem volta ou um “fardo” a ser carregado.
- Pelos débitos contraídos em vidas anteriores, o Carma seria vivermos uma existência fatalmente difícil e penosa, como uma punição, até a “queima” de todos os nossos débitos.
- Por possuir um “fardo” nominado, ou seja, com o nome de quem errou, deveríamos vivenciar as dores na matéria, aceitando nosso destino, sem possibilidade de mudar aquilo que já foi construído.
Já no oriente, em sua grande maioria, se prega que a vida é eterna e que é o Carma quem determina a trajetória de uma pessoa. Assim, as ações boas ou não tão boas por ela praticadas são o que traçam sua vivência nesta existência e nas futuras. De acordo com esta visão, as ações do passado são aquelas que definiriam a sua realidade atual.
Segundo o dicionário, Carma é o:
“Princípio que afirma estar o ser humano sujeito à causalidade moral, sendo que suas ações (boas e más) têm reações que a ele voltam, com a mesma forma e intensidade, nesta ou numa outra vida.”
PORQUE PODEMOS FAZER ESCOLHAS
- Em razão do direito natural e divino concedido pelo Pai, principalmente, através da Lei da Liberdade.
- Em razão dos nossos entendimentos conquistados e ainda muito limitados.
Vivenciamos as experiências conforme entendemos ser a melhor plantação que nos gerará a melhor colheita. Diante de nossa ignorância, todavia, tal atitude não significa que ela seria a melhor escolha tendo como base a evolução espiritual que almejamos como filhos de Deus.
Certo é que o Pai nos concedeu este instrumento para nos tornarmos responsáveis pela nossa trajetória e merecedores de cada vitória conquistada, de cada escolha que nos levará mais e mais para próximos Dele.
No princípio, escolhemos segundo a nossa visão do que é certo e errado. Vejamos 4 pontos de vista que relativizaram as escolhas:
CARMA E ESCOLHAS
Juntamente com a Lei da Liberdade – e as demais que também incidirão a cada exigência de nosso aprimoramento – temos a Lei de Causa e Efeito.
Entre os espíritas de hoje, não é incomum enxergarem a Lei de Causa e Efeito com uma visão fatalista do sofrimento, da dor e do carma, não analisando mais profundamente os seus verdadeiros efeitos.
Não podemos esquecer que a encarnação não é concedida para nos castigar, mas sim nos educar e disciplinar⁴.
A dor, e não o sofrimento, é somente um instrumento de uma lei de equilíbrio e evolução sobre quem ela incide.
É através da liberdade de ação (que nos responsabiliza) associada à dor (que nos faz crescer), que conseguimos enxergar quem estamos em nossa escala evolutiva; quais são os nossos valores intelectuais, morais e éticos conquistados; e o que precisamos ainda aprender para bem plantarmos para futuras colheitas
MAS, AFINAL, CARMA E ESCOLHA SÃO IGUAIS?
Pensem em um espírito que, em razão de seu grande amor, resolve participar de uma existência de dor para auxiliar aquele que ele ama a se libertar de suas mazelas. A sua existência seria descrita como a de resgate do seu carma, mas estaríamos longe da verdade. “A expiação serve sempre de prova, porém a prova nem sempre é uma expiação”⁵.
É de se concluir, portanto, que as escolhas estão relacionadas com o carma, mas o carma não abrange tudo o que podemos considerar resultado de nossas escolhas.
Por tudo isso, o conceito do dicionário acima nos espanta porque se entendermos que das nossas ações virão reações “com a mesma forma e intensidade”, estaríamos aplicando a lei de Talião, com a sua máxima, “olho por olho, dente por dente”, e não a de Causa e Efeito.
Todas as nossas experiências são um reflexo de nossas escolhas, mas, diante delas, podemos atualizar e alterar as nossas futuras vivências, segundo o entendimento que formos adquirindo, sem fatalidade, sem determinismo. A incidência das leis imutáveis do Pai estará sobre nós segundo o resultado de nossas ações, mas também segundo o nosso entendimento, refletido pela nossa verdadeira intenção.
Para cada ser, as suas experiências, os seus efeitos estão diretamente relacionados à utilidade e necessidade do seu aprendizado.
Como disse Jesus: “(…) dará a cada um segundo as suas obras.⁶
Adriana Machado
Referência
[1] Em meu blog: https://www.adrianamachado.blog.br/2016/09/carma-ou-escolhas.html
[2] Capítulo 11, de “O Livro dos Espíritos”.
[3] https://www.dicio.com.br/carma/
[4] Itens 621 e seguintes de “O Livro dos Espíritos” e in Bíblia Sagrada, Mateus, 7:7.
[5] In “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, p. 69, Petit, 1997.
[6] Mateus 16:27
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