“A culpa transforma-se em agente de transformação e a pessoa quase não acredita que ela possa promover uma mudança tão importante em sua vida. Isso se chama educação emocional, parte integrante de um processo libertador e formador de qualidade de vida.”
(Wanderley Oliveira em Descomplique, seja leve – pág. 78)
Sem querer fazer propaganda, mas não conseguindo evitar, para quem não o leu ainda, este livro de espiritismo deveria ficar do lado de nossa cabeceira porque, como o título dele revela, precisamos descomplicar a nossa forma de enxergar a vida, deixando-a mais leve por meio de nossas novas posturas. Eu gosto muito de abri-lo ao acaso porque ele nos dá muitas dicas preciosas de como viver melhor a cada dia.
Claro que preciso ler cada uma dessas dicas, uma, duas, três vezes, porque a gente teima em querer continuar com os velhos hábitos…, mas a cada dia está ficando mais fácil absorver e agir conforme os bons conselhos que recebemos ao buscarmos o conhecimento, bem como ao nos abrirmos para recebê-los de quem nos ama!
Mas vamos ao tema de hoje que esta obra muito nos ajudou a compor.
Eu sempre dizia para os meus amigos que o meu sobrenome era culpa porque sempre me sentia culpada quando acreditava que tinha errado, quando enxergava os resultados indesejados de minhas ações. Mas cresci buscando o meu aprimoramento espiritual (e ainda busco) e, devagar, estou aprendendo que a culpa não deixa de ter um valor benéfico em minha vida.
Como foi dito por Wanderley Oliveira, neste trecho que destaquei acima, a culpa pode nos auxiliar a superar a nossa estagnação no velho. Como assim? Bem, pensem que o que nos leva a agir frente às experiências da vida são os nossos valores, nossas crenças. Se ao agir não me sinto tranquila, muito pelo contrário, sinto remorso frente as consequências do meu ato, então, isso quer dizer que alguns valores e crenças que porto estão em pleno processo de saturação, já sendo vistos por mim como algo que não me satisfaz mais e que não deveria continuar sendo sustentado.
Se assim é para cada um de nós, busquemos, então, mudar o nosso proceder para que não soframos mais do que o necessário, pois a culpa é positiva porque, sendo produzida pelo nosso ser interior, ela quer nos mostrar que algo deve ser modificado e somente nós podemos realizar essa transformação.
Não é de agora que percebo o quanto podemos nos torturar com esse sentimento. E se nos torturarmos, provocaremos em nós, de pouquinho em pouquinho, um processo de modificação interna porque ninguém aguenta ficar tanto tempo se maltratando: ou se modifica por si só ou busca uma ajuda terapêutica. Em ambos os casos, estaremos nos movimentando onde antes estávamos estagnados.
ONDE ESTAMOS AO NOS PERMITIR A ESTAGNAÇÃO?
Não existe lugar mais perigoso do que a nossa zona de conforto. Na maioria das vezes, essa zona nos alivia a alma, e por isso nem percebemos quando começa, nela mesmo, o processo de opressão que a estagnação nos promove.
Para os que não estão conseguindo enxergar como isso acontece, vou utilizar o exemplo do sapo na panela: se colocarmos um sapo na panela com água fresca, ele se deixará ficar confortavelmente neste ambiente que lhe é próprio. Se ligarmos o fogo, ele continuará bem ali enquanto a água vai esquentando gradativamente sem ele perceber o perigo que o cerca. Quando for tarde demais, ele já não terá forças para pular para fora da panela sem ajuda. Agora, pensem em uma outra situação: a água já está fervida e colocamos o sapo na panela. Ele imediatamente perceberá que o ambiente para ele é inóspito e pulará dali sem pestanejar.
Assim somos nós! Somente quando a vida está “fervendo” é que nos movimentamos para nos livrar de situações desagradáveis. Mas nem sempre percebemos o processo de fervura no qual já estamos inseridos e ao vislumbrarmos o perigo, sem forças para superá-lo sozinho, nem sempre queremos pedir ajuda para sair dele.
Sozinhos ou acompanhados, precisamos de alguns instrumentos para nos alertar. A culpa é um alarme! E ela pode ser positiva ou negativa dependendo de como a abraçamos quando este alarme soar. Como já foi dito antes, ela é positiva, porque também nos faz parar e repensar a nossa história, provocando a nossa reação para mudanças importantes em nossa trajetória de vida; é negativa, porque se não a tivermos compreendido como uma ferramenta de transformação, poderemos nos sentir “afogando”, pela sensação da falta de força para sair da panela fumegante.
“Enquanto não se aprende qual a função luminosa e terapêutica da culpa,
vive-se no sofrimento causado pelo remorso”.
(Wanderley Oliveira em Descomplique, seja leve – pág. 78)
O grande problema, se posso chamar assim, é que nós, ao nos sentirmos culpados, não acreditamos que conseguimos mudar o padrão que, aos nossos olhos, é quem somos. Daí vem a célebre frase: “Sou quem sou e não vou mudar.”
Será? Será que aguentamos viver um conflito íntimo vida após vida, hora após hora, minuto após minuto? Pensem comigo:
“Em nível físico, os reflexos mais identificáveis desse quadro de desequilíbrio são: desvitalização, acompanhada por fadiga, desânimo e indisposição para movimentar-se; prisão de ventre; problemas respiratórios; enxaqueca; tristeza persistente sem causa aparente; dores cervicais e lombares; alergias e outras dores físicas e emocionais.”
Dá para aguentar tudo isso muito tempo? Normalmente, não. E, por isso, tatearemos inúmeras formas para sair do turbilhão de aflições em que nos inserimos.
É claro que essa regra só vale para quem se encontra no processo de saturação de seus valores e crenças antigos, porque veremos pessoas que não mudaram e não mudarão tão cedo, pois, acreditem, para elas nada precisa ser mudado e, portanto, não há culpa a ser sentida.
LAPIDAÇÃO PESSOAL
Precisamos lembrar que este processo é pessoal. Somos nós, com ajuda de terceiros ou não, que deveremos querer aplicá-lo em nossa vida. Mas nada impede e sempre haverá a esperança de que, com o nosso exemplo, aquele que também necessita mudar buscará a sua recuperação, utilizando todas as ferramentas que estão à sua disposição, inclusive a culpa.
É claro que, utilizar este instrumento que nos atormenta a alma, sem o devido entendimento, pode ser bastante doloroso. E não são poucas as vezes que teremos de ter ajuda externa e terapêutica, mas melhores condições se colocarão àqueles que se permitiram entrar em seu processo mínimo de autoconhecimento, de autopreservação e de autoamor.
Será, no entanto, que teremos de vivenciar toda a nossa existência tendo como instrumento de progresso a culpa? A boa notícia é que não. Ela será utilizada por nós até quando acharmos que nos é útil.
ESTAR ATENTO É OUTRA FERRAMENTA
Dando-lhes um exemplo pessoal: lembram quando eu disse que o meu sobrenome era culpa? Então, hoje eu já consigo superar muitas experiências que antes me eram catastróficas porque compreendi que ela é um alarme e que não precisa ficar apitando sem parar. Ao ser acionado, estando eu atenta, já posso começar o meu processo de burilamento sem precisar ficar alimentando o remorso que provoca a culpa e que me tira completamente a paz.
Por isso, outra dica é essa: não alimentarmos mais do que necessário aquilo que nos traz dor. Digo isso porque não deixaremos de fazê-lo. Enquanto não percebermos a água fresca se amornando, lá estará a culpa fazendo o seu papel, sendo parte de um momento de dor da nossa vida. Mas, ao notarmos que há uma mudança em nosso íntimo, podemos buscar as respostas para que não nos prejudiquemos com a alteração drástica provocada pela nossa antiga postura eivada dos vícios de outrora.
CONSEQUENTEMENTE…
Se ainda não há como não abandonar a culpa, que possamos utilizá-la em nosso benefício, como um instrumento de transformação do nosso antigo “eu” que ainda engatinha frente às novas experiências, mas que, atentos, poderemos enxergá-la em sua face positiva, porque ao sofrermos a dor pela culpa, estamos todos sendo chamados a um novo caminho a ser trilhado que vai nos fazer mais felizes no futuro!
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