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Lindo Depoimento de um presidiário

Lindo depoimento de um presidiário

No mês de março deste ano, recebemos a carta de um detento do Complexo Penitenciário de Chapecó, que iremos chamar de RG, solicitando a doação de um livro “Reforma íntima sem martírio”, pois o exemplar que ele tinha estava com páginas faltando.

Enviamos o livro, mas um mês e meio depois o recebemos de volta. Ao ligar para saber o motivo, falei com uma funcionária que me informou não ser autorizado o envio direto para os detentos, mas ela se disponibilizou a receber e passar para ele.

Falou-me também de um projeto[1] que estava sendo implantado naquela unidade da penitenciária para incentivar a leitura. Ao tomar conhecimento, fizemos uma campanha para doação de livros que enviamos para Chapecó.

No dia 1º de novembro, recebemos de RG uma carta de agradecimento, e desabafo, muito tocante, que passamos a vocês, na íntegra:

“Dona Maria José, primeiramente gostaria de agradecer sua atenção, e a de todos da Editora Dufaux, por tudo o que fizeram, não só por mim, mas por todos os detentos da Penitenciária de Chapecó, pois os livros enviados servirão a todos os que estão agora e também àqueles que ainda virão a cumprir suas penas, o que infelizmente ainda são muitos!

A realidade do cárcere é bem triste. Neste lugar, estamos à mercê da angústia, da ansiedade, depressão e de todo tipo de pensamento negativo. A saudade da família, a distância das pessoas que amamos, é um convite a reflexão, para que façamos uma análise profunda das nossas escolhas.

Mas, na maioria das vezes, para muitos de nós, a perturbação se torna tão grande que o que acontece, em verdade, é a revolta. Revolta essa que sô gera mais violência, que torna as ruas tão perigosas, que faz com que o nosso país seja um dos mais inseguros do planeta.

É preciso um esforço de todos, governantes, sociedade, juízes e legisladores, lideranças de todas as religiões, para que possamos superar esta dura realidade que vivemos. Para isso, as pessoas terão que entender e praticar a inclusão.

A imensa maioria que está aqui comigo, e que também compõem os mais de seiscentos mil encarcerados do país, são oriundos das classes mais pobres, são pessoas que não tiveram oportunidade de um emprego honesto, de constituir uma família, de levar uma vida digna.

Exterminar toda essa gente também não resolveria, ao contrário do que pensam alguns extremistas, a violência é uma questão social em nosso país e enquanto nossos governantes preferirem destinar mais verbas para construir penitenciárias, do que para fazer escolas e faculdades, o quadro só vai piorar.

De maneira trágica, os discursos daqueles que apregoam o endurecimento das leis e a redução da maioridade penal continua sendo mais aclamando do que os que propõem a via pacífica.

Chega-se ao absurdo de se dizer que, a liberação indiscriminada de armas de fogo irá conter os alarmantes índices de violência do Brasil. Hipócritas! “Não existe caminho para a paz, a paz é o caminho’’, ensinou o grande líder sul-africano Nélson Mandela, que passou quase três décadas da sua vida dentro da prisão.

Mas, dona Maria José e amigos espíritas que estiverem ao alcance desta humilde mensagem, tudo isso não pode nos assustar.

Nós somos os apóstolos do terceiro milênio, os portadores da Boa Nova, que desce diretamente dos planos mais altos, e a nossa missão é essa, semear mesmo que seja nas areias do deserto, sob o calor do sertão nordestino, nos dilúvios que arrasam o sudeste, ou em meio ao frio que congela os miseráveis no sul. Nem mesmo as muralhas intransponíveis da prisão são um obstáculo para nós.

Que sirva de exemplo, o nobre gesto desta digníssima instituição, que doou muito mais que centenas de livros á nossa humilde biblioteca, doou esperanças, doou sonhos, doou vida.

Que no futuro, vejamos muitas outras entidades espíritas comprometidas com a regeneração dos transgressores da lei, divulgando o Espiritismo a estas pessoas, desacreditadas pela sociedade, mas ainda filhos do mesmo Pai, candidatos a vida eterna prometida pelo Mestre Jesus Cristo, reafirmada por Allan Kardec, assegurada pelo testemunho de todos nós!

Deus abençoe o vosso trabalho, que a vossa generosidade atinja os corações endurecidos daqueles que carecem de luz!

Com carinhos, um forte abraço.”

 

 

[1] Projeto “Despertar pela Leitura” – que é um projeto autorizado pela Vara de Execuções Penais da Comarca com o objetivo de trocar os momentos carcerários ociosos por leitura e estudo, com a possibilidade de comutação de quatro dias da pena para cada livro lido. O projeto precisa atingir o número de, no mínimo, 1.000 livros disponíveis na biblioteca até o primeiro ano de funcionamento. Doações para [email protected].

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Maria José iniciou o trabalho da Editora Dufaux, em sua casa, na Rua Professor Baroni, no bairro Gutierrez, que se tornou a primeira sede da Dufaux. Em Para tanto, ela “confiscou” o único computador e o telefone fixo da família, dando início aos trabalhos.

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