“…para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído”.
Lucas 1:4.
Lucas, o Evangelista, iniciando desta forma a sua narrativa dos fatos que levantou sobre o Ministério e a Vida de Jesus, proclama a seu modo o Evangelho e as boas novas do Reino de Deus.
É interessante e bem apropriado quando ele nos fala de termos plena certeza das verdades para as quais fomos instruídos, pois soa como uma advertência, como a nos lembrar de que todos nós somos formados na mesma matéria do Mestre. E quem instruiu a Jesus, certamente também nos instruiu, pois somos todos originários da mesma escola espiritual.
O que nos faz diferentes uns dos outros,
e tanto do Nosso Amado Mestre?
Só consigo entender tal disparidade em face de apenas uma palavra: escolha.
Para escolher da melhor forma e de maneira que atenda às nossas necessidades, precisamos conhecer bem os objetos, fatos e quaisquer coisas e elementos, reais ou abstratos à nossa disposição. Mas sobretudo, devemos conhecer a nós mesmos. E conhecendo-nos, podemos escolher o melhor de nós, por menor que inicialmente possa parecer aos nossos olhos.
Jesus sempre fez as escolhas certas.
E nós também podemos começar a fazer o mesmo. O primeiro passo é aprender a lidar com a nossa fragilidade e as nossas fraquezas, pois conhecendo-as aprendemos a não projetarmos no outro, deficiências que são nossas, melhorando nossa capacidade de relacionamento interpessoal. Assim, aprendemos a respeitar nossos semelhantes e podemos ajudar ao próximo com mais propriedade e pertinência às suas necessidades, sem impor nosso ponto de vista ou nossa forma de entender o mundo. Trata-se de uma atitude de respeito ao próximo, que também se encontra, como todos nós, em processo de educação, resgatando dentro de si as verdades que nos foram instruídas pelo Pai.
Assevera-nos o Espírito Hammed que “apenas quando tivermos um considerável conhecimento de nós mesmos é que poderemos ajudar efetivamente alguém”.[1] Caso contrário fica muito difícil exercer a fraternidade e a caridade, pois compartilharemos o que acreditamos que o outro precisa, não o que o outro realmente necessita. Quando tocamos o irmão em sua necessidade, com amor e empatia, colocando-nos em seu lugar, sem questionar e sem julgar, agimos sem ferir, sem magoar e com mais segurança para ajudar.
Por isso é tão importante trilharmos esse caminho interior, cheio de ladeiras, vales profundos, tortuosas estradas onde nos perdemos em atalhos frios e sombreados pelo medo de nós mesmos e pelo medo de viver conforme a vida se apresenta em realidade. Realidade esta que frequentemente é frustrante, pois vem contra aos nossos desejos e expectativas referente ao que acreditamos que seja justo para nós em face de nossos esforços.
Mas temos de levar em conta que o universo sempre caminha para um estado de harmonia, equilíbrio e perfeição. Mas este estado ainda se encontra longe de nosso entendimento, pois somos criaturas ainda afeitas ao imediatismo, ao lucro, ao poder e ao conforto que a materialidade possa nos proporcionar. As conquistas interiores e os valores espirituais ainda se encontram em segundo plano no nosso mapa de roteiro de crescimento individual. E isso é muito triste, desalentador e preocupante.
Mas é possível mudarmos este panorama
Vamos começar a prestar atenção em nossas atitudes corriqueiras, e não sermos apenas um elemento passivo diante de nossas necessidades que nos levam a conquistar o que queremos ou julgamos merecer, não medindo esforços para isso. Atitudes assim nos levam a passar por cima de normas, convenções e de pessoas que, ao nosso lado, também caminham tentando alcançar os mesmos objetivos, como se estivéssemos numa competição desumana.
A única competição que vale a pena nos empreendermos e investir nossas forças é aquela em que travamos com o nosso lado sombra. Mas é uma competição diferente, pois o que vale não é ganhar, mas acolher e conquistar, aceitar e transmutar. Transformar em força aquilo que não percebemos, rejeitamos ou ignoramos em nós. Pois faz parte de nós e é nossa história.
Como identificar essa “área sombria”?
Ela costuma ser imperceptível aos nossos olhos e age sorrateiramente, enganando nossas funções cognitivas mais elevadas. Vejam só, esse nosso lado obscuro é que costuma comandar as brincadeiras sarcásticas, o uso de palavras maliciosas e picantes que utilizamos ao nos referirmos a determinadas pessoas e situações. E também, quando estranhamos ou nos petrificamos diante o comportamento social, sexual ou religioso alheios, pois tal fato revela tão somente o nosso precário estado íntimo, ainda afeito ao preconceito, à dissimulação e ao desrespeito ao nosso semelhante.
Atitudes assim mostram apenas a desconexão com a nossa essência verdadeira, o que nos leva, em consequência, a vivermos apartados fraternal e amorosamente um do outro, ignorando que somos todos em verdade, espíritos em longo processo e jornada individual de descoberta, assunção e expressão de nossas potencialidades divinas.
Aceitando que ainda não somos tão bons e perfeitos como gostaríamos de ser, começamos a perceber que toda a humanidade, não somente aqueles com os quais dividimos um teto, um leito ou com aqueles que se constituem a nossa família encarnada, mas todos que habitam este planeta fazem parte de uma única e grande família onde todos nós estamos passando por aflições e apreensões, dificuldades e opressões que visam apenas o despertamento de nossa verdade e realidade espiritual. Essa verdade nos liberta através da porta estreita do coração, onde podemos passar e nos perceber necessitados de amor tal como o Mestre nos ensinou. Amar a si mesmo para então amar ao próximo.
Amar é respeitar a diferença. Amar é aceitar o semelhante. Amar é harmonizar os contrários. Mas tudo isso começa dentro de nós, conhecendo o nosso interior e procurando nos reconciliar com os nossos piores adversários e inimigos, que não se encontram lá fora.
Temos de nos reconciliar com os nossos opositores íntimos, esse lado escuro que negamos, pois só assim teremos paz de espírito, paz com os nossos irmãos e reconquistaremos essa paz nas nossas relações humanas e sociais.
Autoconhecimento é a capacidade de perceber o que precisamos transformar em nós mesmos para nos tornarmos criaturas mais afeitas ao que é realmente o bem, o belo e o bom. Simplesmente a pura manifestação do Pai em nós.
Por isso digo que o que nos faz diferentes uns dos outros são as escolhas que fazemos, não o conhecimento, a posição social ou o bem material que possuímos.
Estamos vivendo numa época em que a tônica de nossos pensamentos, discursos e atitudes deve se pautar na ética e na fraternidade, não mais na moral e na benevolência. Tal mudança se apoia na percepção de que somos todos irmãos por aliança e na comunhão de um mesmo ideal regido por uma única lei natural ou divina.
É como se a humanidade fosse uma orquestra, e cada ser um instrumento, vibrando e tocando uma única sinfonia.
O primeiro passo é cada um afinar seu instrumento interior. É educar, tirar de dentro de si o que somos em essência.
Aí sim, a verdade liberta!
[1] Livro Prazeres da Alma, Médium Francisco do Espírito Santo Neto – Editora Boa Nova
Ricardo Gruppioni
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