Vivemos um período de grandes desilusões e sofrimentos no mundo, na sociedade e na família, mesmo diante de tanto conforto e conquistas que nos trazem bem-estar.
Ao nos depararmos com tanto sofrimento, violências e agressões diversas que permeiam a nossa existência planetária, às portas da regeneração, sentimo-nos ameaçados e temos a sensação de que algo nos falta. Algo que nos preencha intimamente e nos traga paz e esperança. Paz verdadeira e permanente.
Sentimo-nos abandonados e desamparados. Talvez desprotegidos ante os desafios constantes da vida, que acabam com as nossas energias. Para enfrentar tudo isso queremos proteção. Proteção energética contra os maus pensamentos, as energias negativas, as forças das trevas, o mau-olhado, e tantas outras.
Pai João de Angola, no livro de espiritismo “Fala, preto-velho”, nos traz uma perspectiva bastante útil nesse sentido e que contribui para aliviar o nosso sofrer.
Fala então a sabedoria do Preto Velho
Logo no prefácio do livro, Pai João cita as três principais feridas evolutivas que trazem essa sensação de desamparo, inércia e imobilidade ante as ameaças e que são estudadas e desenvolvidas ao longo da obra. São elas:
- A ferida da inferioridade.
- A ferida do abandono.
- A ferida da falibilidade.
Estas feridas abrem caminho para o medo e como consequência, a insegurança, uma grave doença da humanidade nas palavras de nosso doce e sábio amigo espiritual.
Comentando sobre as feridas
- O sentimento de inferioridade surge ante os desafios necessários ao nosso crescimento e que promovem nosso desenvolvimento espiritual.
Quando tomamos ciência de nossa realidade, percebendo que ainda não somos capazes de ser quem gostaríamos de ser. Ou que ainda o mal que não gostaríamos de pontuar, como assevera Paulo, o Apóstolo dos Gentios[1].
Percebemo-nos decepcionados e aquém das metas que traçamos como ideal para nosso ser. Cai ao solo a nossa autoimagem de perfectibilidade e nos vemos como somos, nos sentindo pecadores e merecedores de condenação, afundando na culpa e remorsos.
- O sentimento de abandono começa a surgir quando enxergamos o mal que o nosso egoísmo, chaga da humanidade há longas eras, provoca ao nosso semelhante e a nós mesmos, gerando conflitos decorrentes de nossos interesses de nos sobrepormos uns aos outros.
Essa atitude promove afastamentos afetivos entre as pessoas. Cada criatura cria seu próprio casulo no qual se esconde, vivendo relações superficiais que não se completam, não se resolvem e não se redimem.
- O sentimento de falibilidade talvez seja o mais perigoso, pois se intensamente vivido e não resolvido, pode levar a criatura a um profundo complexo de inferioridade, gerando baixa estima, depressão, sentimento de fracasso, inércia.
Estes fatores determinam o não enfrentamento de conflitos e de desafios que promovam o crescimento do indivíduo. Em casos extremos, resultam nas tentativas de autoextermínio. A ansiedade constante, por antecipação de qualquer situação a ser vivida ocasiona um medo constante de viver.
Esses sentimentos levam a criatura a crer que a causa dos problemas está no mundo ou nas pessoas. Daí surge a busca por proteção em roteiros religiosos de variadas ideologias, ou atitudes e posturas externas da manifestação da fé, como o uso de patuás e amuletos ou mesmo a uma condição contemplativa da vida, que fica em ritmo de espera.
Cria-se uma posição de expectativa de que o outro, a vida, ou um religioso, um mestre, um guru, um guia, ou um tratamento espiritual venham a resolver os nossos problemas, sem uma participação ativa nesse processo de enfrentamento e de procura por soluções.
Buscando curar as feridas
Proteção íntima e real é muito mais do que aparatos exteriores e atitudes exteriores. O amor é a única forma de promover o crescimento do espírito e conferir-nos proteção verdadeira. E se Deus é amor, e se Ele é nosso Pai, conforme Jesus nos ensinou, sofremos porque não aprendemos a amar e não usamos nossa divina herança, a capacidade de amar incondicionalmente.
Todos nós somos feitos da energia vibratória do amor emitida pelo Criador, e todo o universo assim foi feito como uma extensão de Sua Mente Divina. Sendo isso um fato, se somos filhos da Luz, duas perguntas:
- Porque aceitamos o sofrimento como algo normal em nossa vida?
- Onde está escrito que devemos sofrer?
A formação Judaico-Cristã incutida em nosso inconsciente coletivo há longo tempo nos faz valorizar uma cultura de sofrimento e de autopunição.
Isso está muito marcado em nosso inconsciente e, espíritas, católicos, evangélicos e religiosos falidos que fomos em outras vidas guardamos na alma esse ranço de que se erramos, somos culpados e devemos padecer as reparações.
Usamos o exemplo do próprio sofrimento do Cristo, nosso modelo, e esquecemos de suas lições de amor. Mas o Evangelho não é sofrimento. O Evangelho é luz e consolo para os povos.
Na maioria das vezes veneramos Jesus na cruz. Não o enxergamos ressuscitado, glorioso e resplandecente. Essa é a lição a se guardar e a colocar em prática. O Jesus luminoso, sereno e liberto das paixões, sempre amando aos seus discípulos e a todos aqueles que O repudiaram e ainda continuam repudiando-O. Este é o exemplo a seguir.
A grande lição é a do amor e a do perdão. “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”[2]. Este é o legado do amado Rabi da Galileia:
- A energia proveniente da faixa vibratória do amor, colocado em prática na caridade ativa.
- A gentileza, a escuta individualizada.
- A partilha do que temos de melhor em nossa alma. O perdão e o respeito às individualidades.
- Ofertar água ao que tem sede. Repartir o pão com o que tem fome, tanto o que sustenta o corpo, quanto aquele pão que alimenta o espírito de conhecimento e de paz.
- As alegrias compartilhadas e os sorrisos acesos nos olhares doridos dos caídos à beira do caminho.
- Sobretudo o respeito a nós mesmos, tendo paciência com nossos passos.
Essa força do amor vem de dentro da alma, quando a criatura aprende a desenvolver seus potenciais mentais e emocionais, frutos de sua herança divina, quando usa de seu livre arbítrio para semear o bem, aí ele frutifica!
Esta é a melhor autodefesa contra as forças e energias do mal, ou seja, a amorosidade da conduta, do cidadão do mundo e, em breve, do universo.
Esta é a proteção da qual fala Pai João de Angola.
Ricardo Gruppioni
[1] Paulo – Romanos; 7:19. Por que não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.
[2] João; 13:34
Ricardo Gruppioni
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