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O significado da morte em minha vida

A morte sempre esteve presente em minha vida como um carma doloroso de família. De uma família de dez filhos eu sou a 9ª. Seis morreram ainda crianças, impactando profundamente a vida dos meus pais e dos quatro irmãos sobreviventes.

Minhas lembranças de infância se restringem a partir do período em que meus seis irmãos já haviam falecido. Guardo na memória os sentimentos de dor e angústia vivenciados especialmente pela minha mãe, que no afã de superproteção me impediu de vivenciar minha infância com leveza e liberdade. Havia sempre o risco de acidentes e infecções que me pudessem roubar a vida, abrindo novas feridas em seu coração.

Minha mãe tinha verdadeiro pânico da morte, a ponto de não conseguir dormir sozinha em um quarto. Tinha medo dos mortos, dos vivos, de doença, de tudo…

Quando meus sobrinhos começaram a nascer, sentia o medo de que alguma doença pudesse roubar-lhes a vida. Vê-los crescer com saúde e enfrentando poucas intempéries, me fortaleceu a confiança de que as coisas pudessem ser diferentes.

Minha primeira filha, bastante saudável, fortaleceu minha confiança em um futuro diferente pra mim. Porém, meu núcleo familiar com mais dois filhos e um casamento com profundos desequilíbrios foi muito desafiador.

Foi nesse clima que me deparei com o diagnóstico avassalador do câncer do meu segundo filho, Felipe. O prognóstico reservado de um câncer raro (50% de chances de cura) trouxe muito medo e incerteza, o que me fez buscar na fé e no apoio psicológico, por meio do Grupo GEEPSICOM, o socorro de que necessitava.

Trabalhar na terapia e nos muitos estudos da Doutrina Espírita o conceito de cura da alma, foi o caminho pra encarar com coragem a possibilidade da morte física. A certeza da continuidade da vida começou a ser o lenitivo para enfrentar a realidade, que após um ano de tratamento bem sucedido, começou a mudar com o surgimento de metástase óssea e pulmonar.

Me lembro do pavor que sentia quando em alguns momentos me passava pela cabeça a possibilidade da morte do meu filho. Não conseguia sequer imaginar como seria vê-lo morto diante de mim.

Mas Deus nos proporciona o tempo necessário para acomodar todos os sentimentos, bem como a oportunidade de, diante da dor física de um filho, defrontar com a difícil situação para uma mãe, mas profundamente libertador, que é a de devolvê-lo aos cuidados do Criador como forma de libertá-lo de tamanho sofrimento.

Me lembro de uma sessão de terapia com a Lígia, onde falei do medo de ver o Felipe morto, e a partir de então me permiti visualizar essa cena com profunda dor, mas com a coragem necessária. Quando parei de lutar contra essa realidade, ela começou a se acomodar dentro de mim, trazendo mais leveza e resignação, ancorada na fé e na certeza da continuidade da vida e na transitoriedade das dores e desafios do mundo físico.

A coragem e a maturidade que uma criança de apenas nove anos desenvolveu diante dos seus desafios, me fortaleceram diante da minha luta. Seu exemplo me contagiou e fortaleceu ao mesmo tempo. Os momentos finais, extremamente dolorosos, mereceram do Criador o lenitivo da presença do meu marido Marcos junto de nós, que até então morava em outra cidade, por conta do trabalho, e só estava presente nos finais de semana.

No dia do aniversário de nove anos do Felipe e cerca de um mês antes do início do período mais difícil da sua luta, Marcos finalmente veio trabalhar em BH, após um longo período de processo seletivo.  Foi o presente de aniversário do Felipe. Dias antes dessa notícia, perguntei a ele qual o seu maior sonho e ele me respondeu que era que seu pai viesse morar em BH.

Pudemos estar juntos diariamente durante sete meses, onde o sofrimento para toda família foi muito intenso. Foram dias de muita dor física, paraplegia, oxigênio, mas também muitos passes, preces e músicas oferecidos diariamente pela equipe do GEEPSICOM.

Ele partiu consciente e confiante no amparo espiritual. Tenho certeza de que alcançou a “cura”, pois deixou aqui o corpo físico exaurido, mas levou o perispírito mais leve e limpo, devido ao necessário expurgo das impurezas, fruto dos desvios de outras eras.

As inúmeras notícias que ao longo do tempo tenho recebido do plano espiritual, bem como da sua presença em várias reuniões, me falam da sua superação e da sua caminhada linda e cheia de trabalho na vida verdadeira. E reforça ainda em meu coração a certeza de que a separação é momentânea e que os vínculos afetivos são eternos. A caminhada é longa e já fazem dezoito anos da sua partida. Essas experiências com certeza me prepararam e me fortaleceram para novos desafios diante da morte.

Após oito anos da sua partida revivi momentos de dor e intensa dedicação aos cuidados com minha mãe, pelo período curto de seis meses, com um câncer cerebral agressivo. Seis meses após o desencarne dela, meu pai, que já enfrentava um processo de insuficiência renal em hemodiálise há três anos, também retornou ao mundo espiritual inesperadamente, com um infarto fulminante.

Rosângela, minha irmã, oito anos mais velha que eu e da qual tinha profundo vínculo iniciado na infância quando ela cuidou de mim como mãe durante as inúmeras ausências da nossa mãe, sempre ocupada com meus irmãos doentes. Agora, já na vida adulta quando eu me pus a cuidar dela, diante das suas inúmeras dificuldades psicológicas e financeiras, desencarnou em janeiro deste ano com o mesmo câncer cerebral da minha mãe.

Apesar da profunda dor que esses acontecimentos me trouxeram, eles me encontraram já mais resiliente e talvez calejada. Já compreendo o significado do “até breve” que a morte representou na minha vida. Percebo as profundas lições e oportunidades de transformação que cada adoecimento trouxe a cada um dos meus familiares desencarnados, bem como ao crescimento oportunizado a todos que me acompanharam.

A morte ainda me assusta. Gostaria de não ter de vivenciá-la novamente, como uma criança que se recusa a encarar seus monstros, mas que no entanto já sabe da força interna que possui e que sempre pode ser acessada dentro de si, quando o momento chegar.

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Adriane Cysne

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